segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Aos fiéis ensaios noturnos

Até 1996, eu não via problemas em ficar acordado até às duas da manhã do domingo pra segunda, até porque nessa época eu só sabia o que era cedo e tarde. Até hoje, quando não consigo dormir, não conto carneirinhos ou coisa parecida (é o cúmulo ter que me preocupar em não perder a conta), faço o mesmo que fazia naquela época: ouço.

Nessa mesma época eu me preocupava com cinco questões: por que tenho que dormir cedo se ainda tem gente acordada lá fora? Será que estão fugindo da polícia todos esses carros que passam correndo? Será que o pessoal acorda amanhã nesse horário pra brincarmos na rua? O que posso fazer pra fugir dessa escuridão até eu chegar ao interruptor? Por que todo dia esse filme sem final passa pela minha cabeça?

Assim como a maioria dos meus sonhos, a noite se encarregava de engolir tais pensamentos sem deixar rastros na manhã seguinte. Com o tempo fui acostumado, ou melhor, condicionado a funcionar com o passar das horas, logo duas da manhã é o horário em que só estão acordadas pessoas que trabalham nesse horário. Mas há alguns espaços de tempo eu pude ouvir novamente... e me perguntar: as pessoas lá fora não têm medo da violência? Será que os motoristas não percebem que já passou das dez? Será que não acordarei ninguém se eu for ver a noite? Por que algumas coisas parecem mais claras na escuridão? Por que todo dia esse filme sem final passa pela minha cabeça?

Desde então eu parei de pensar em coisas boas para ter sonhos, pois não há final feliz em filme que não tenha passado por pesadelos.

"Aos fiéis defuntos"

...e àqueles que, dentre todas as possibilidades, convivem com alguma partida.