domingo, 12 de dezembro de 2010

O mundo simbólico de Temple Grandin

Temple Grandin ficou conhecida pelo documentário “made for tv” homônimo, que rendeu ao título várias indicações e prêmios, tratando sobre a história real de uma autista que criou um dos métodos mais usados na atualidade para controle de gado. O que chama a atenção no documentário é até onde uma limitação pode ser estendida, pois no seu caso, apesar das crises psicológicas, sobretudo as de isolamento, não a impediu de virar PHD em Ciência Animal.



O documentário pode ser visto como mais um dos que chamam as pessoas à reflexão, afora isso, há outro ponto não muito explorado no filme. Esse ponto está em como o psicológico de Temple, apesar de “incomum”, foi capaz de trazê-la aonde poucos chegaram. O modo como seu psicológico trabalha estrutura-se basicamente no mundo simbólico, ou em poucas palavras, no mundo que não é real e impreciso. A lista abaixo mostra como era o seu mundo que, em partes, não é diferente daquele construído por outra pessoa:

-Atitudes calculadas: Temple demorou a desenvolver a fala e a interpretar estímulos físicos, em compensação, sua incapacidade de abstração permitiu movimentos muito calculados, como exemplo, ela precisou de poucas aulas para andar a cavalo e até mesmo dirigir;

-Atitudes extremadas: essa característica completa a anterior. Em uma de suas crises (estas que pioraram quando ela chegou à faculdade), ela se fecha numa engenhoca que chamou como “máquina do abraço”, semelhante àquela que prende o gado para que ele se acalme. Para menos, Temple conseguia ser fria e calma em momentos que normalmente tem-se irriquietantes;

-Dificuldade para lidar com sentimento: pode parecer estranho, pois, no mundo simbólico, os sentimentos dominam praticamente toda a realidade. No mundo simbólico e tão “matemático” de Temple, pessoas e animais eram seres idênticos, o que a tira da realidade e a tornou um tanto violenta;

-Concretismo: como afirmei sua mente é matemática, melhor dizendo, ela une diferentes fatos com algo em comum e os solidifica. No documentário, a partir do sofrimento que ela percebe nos animais pelo tratamento que recebem, somado as características biológicas dos bovinos, as reações de humanos frente a estímulos instintivos, as reações dos próprios animais até numa simples aplicação de vacina, ela construiu uma espécie de curral de curvas (imagem abaixo), que diminuiu o stress dos animais que estão a caminho do abatimento. Ainda, desenvolveu uma série de projetos para provar que sua “máquina do abraço” não era de caráter individual e seria eficaz a outros autistas;



-Falta de dimensionamento: Temple era exageradamente obcecada sobre assuntos que outros acreditavam de pouca relevância, e de certa forma, o contexto da história levava a essa conclusão. Por causa dessa obsessão, Temple foi capaz de fingir ser outra pessoa, fingir ser homem e até mesmo repetir um curso para poder discutir suas teorias. Isso pode ter sido um diferencial para ela, mas a prejudicou quanto aos seus relacionamentos familiares.

Essas características podem ser condicionadas por qualquer outra pessoa, mas era a natureza de Temple e isso torna interessante para medimos o grau de simbolismo que uma pessoa “normal” desenvolve. Simbolizamos coisas invisíveis, como a dor, o medo, as emoções em geral, e isso é um privilégio aos humanos, um fator que permitiu a atual convivência. Somos capazes de enxergar os limites entre o real e o imaginário, porém passam pelo imaginário as conquistas individuais, as realizações no curso de uma vida.

Em conclusão, esse nexo é tão necessário que influencia em determinadas culturas, e dentro dos blocos culturais sempre é desenvolvida uma ideologia, seja qual for, seja ética ou não. Ainda, somos alta e sensivelmente influenciáveis, assim sendo, desde que razoavelmente manifestados no mundo real, a arte de simbolizar pode modificar vidas, grupos, sociedades, tudo aquilo que seja humano, extrapolando os limites biológicos e até físicos.

Ligação: http://www.templegrandin.com/