segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Voragem

As enigmáticas paredes do sótão me acolhem
Só nelas posso apoiar os ombros
Guardam os primórdios do ontem
Um passado perdido nos escombros

Herdei apenas a solidão
Me recordo de corpos fugindo
Seres implorando perdão
Consciências se exaurindo

Almas frias como a ponta de lança
Um silêncio ensurdecedor
Em minha mente aplausos da última dança
Senhora, agradeça ao senhor
Ele a conduziu ao último espetáculo
Está prestes a viver sua última dor

Pertubaram a ordem
Não nascerá novamente com o sol
A imensidão aguarda espíritos que evanescem
Corpos do lado de fora banhados em arrebol

Não há nada a fazer
Esse frio levará sobras da crueldade
Fui glorificado, sou o último a morrer
O único com dignidade

E nada mais parece perigoso
Perdi os sentidos e não estou mais em mim
Um adormecer moroso

Cores desbotam
Tempo congela
Luzes se apagam

E não há motivo para que eu continue vivendo
Encerram-se mediocres vidas
Não há mais espaço para o medo
Não há mais espaço para feridas
Apenas mais um dia que nasce
E se apronta para novas partidas

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