domingo, 18 de julho de 2010

A Justiça Divina nos tempos de hoje

Vou voltar há um ano atrás, quando esse blog era destinado para o que o próprio nome sugere.

A Lei do Talião talvez tenha sido a primeira manifestação do dever de pagar o erro cometido, na proporção do erro, em outras palavras, ser vítima do que praticou. Estamos falando dos ídos ( e muito ídos) de 1.700 a. C., onde o homem não era suficiente claro da sua posição e, principalmente, da posição de seu semelhante. Bom, ainda assim há que considerarmos como uma semente do que hoje chamamos de Direito.
Quero voltar mais ainda, numa época que, particularmente, não acredito em sua existência.

Adão* e Eva.

"A Expulsão do Paraíso", Charles Joseph Natoire, c. 1770



Uma história muito famosa, assim como "fabulosa".


Quero transportar o hoje para aquela época, pois se assim fosse, ainda estaríamos vivendo no Paraíso. Provavelmente Deus estaria respondendo a rogatórias intermináveis, apelos mútuos, precatórias, mandados de segurança, liminares, e toda a infinidade de recursos, além de interrogatórios onde há apenas uma pergunta: que motivo o levou a expulsá-los do Paraíso? - Afinal, trataria-se de uma arbitrariedade, algo sem fundamento jurídico. Hoje, ninguém é obrigado a comer algo sob algum tipo promessa/pena, se assim fosse, se banalizaria.
Se ele fosse julgado no âmbito criminal, a dúvida seria: por que não colocastes a árvore além dos muros do Éden? Por que não sinalizastes do perigo? E o pior, estaria ele induzindo ao crime! Como exemplo, uma ratoeira num lugar estratégico.
Se a primeira lei foi "não comas deste fruto", o único objetivo que a inteligência de hoje concluiria é que, tal lei serviu apenas para criar o castigo.
Talvez Ele tenha achado que o motivo de tudo residia no tédio que Adão e Eva mergulhariam de viver num lugar tão perfeito. Talvez esse argumento seria o principal do advogado Dele.
Hoje defenderíamos Adão e Eva, que se entregaram no momento que expuseram a vergonha do andar nú, e que também após o crime, tentaram fugir e foram vítimas de uma perseguição sem qualquer nexo - como o Todo Poderoso desconhecia o abrigo que se meteram, se Ele próprio conhece todos os esconderijos possíveis, com todos os Anjos a solta?
Só haveria uma explicação: o Paraíso acima do Éden tornará-se um tédio, provavelmente porque Lucifer havia sido expulso de lá.
Deus tomou essa ocasião como uma lição, porém uma lição que prejudicou os descendentes: nós. Como uma criança sem chances de futuro, por ter um pai ou uma mãe recluso(a). Hoje, temos a lei, as infinitas formas de transgressão, o julgamento e, finalmente, o castigo. Talvez criadas para um possível combate às arbitrariedades de Deus, e que também decidiram o destino de seu Filho, findado na crucificação.
Foi um perfeito encontro entre 33 e 2010, onde Pilatos não tinha em mãos leis romanas suficientes para dar-lhe o castigo desejado, nem as judias que proibiam a pena de morte. O promotor Pilatos apelou para a dúvida: nem sim, nem não... Não queria comprometer-se. Jogou a responsabilidade para as mãos do povo, a voz Dele, que acabou não dando o fim desejado com o açoite. Tornou-se um grande espetáculo, onde ofertas feitas com Barrabás foram inúteis. Um duelo assim merecia um final apoteótico. 2010 não admite esse tipo de barbárie, porém as implícitas dominam e estas são as mais violentas.
Direito é algo que nem sempre funciona como deveria funcionar. A Justiça Divina não age através de petições, ela é nossa última esperança, principalmente àqueles que, como eu, não acreditam mais no que impuseram como certo ou errado.


"Ecce Homo" - Desconhecido


*que ironia com o post anterior!




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